Outubro é o mês da música e para celebrar em pleno esta arte performativa, a Divisão de Cultura da Câmara Municipal da Maia, com colaboração das Juntas de Freguesia, promove mais uma edição do projeto musical “Música pelo Concelho – Música pelo Património”, que assenta na valorização e promoção do património cultural do concelho.

Com vista à descentralização cultural, esta iniciativa consiste na realização de atuações musicais em imóveis do património arquitetónico existente em cada freguesia, possibilitando ao público em geral a fruição de concertos mais intimistas, de diferentes estilos musicais, contribuindo, assim, para a criação e fidelização de públicos.

Entre 22 de setembro e 28 de outubro será apresentado um programa com distintas expressões musicais, onde se celebra a música e o património.

“Leida” – Sábado, 7 de outubro, 21h30 Moreira da Maia – Mosteiro de Moreira – Entrada livre

“LEIDA é um instrumento a 8 vozes.

Uma peça é a afirmação de um sub instrumento: É um conjunto de premissas que afeta e lhe delimita os recursos, sem lhe sugerir um percurso formal.

Esse, é feito através da vontade de um gesto que vai chamando objetos num instrumento parametrizado, plástico e emancipado.

Por outras palavras, LEIDA é um sintetizador que ainda estou a aprender a usar.”

Mariana Dionísio

FORMAÇÃO:

  • Mariana Dionísio
  • Leonor Arnaut
  • Beatriz Nunes
  • Filipa Franco
  • Nazaré da Silva
  • João Neves
  • Hugo Henriques
  • Diogo Ferreira

LEIDA é um ensemble vocal constituído por 8 cantores, criado Mariana Dionísio, compositora, intérprete e directora do grupo. Enquanto cantora, propôs-se a pensar alguns dos paradigmas que se formaram pilares idiomáticos desta formação. Foi questionado o papel do intérprete num grupo coral, repensado o estilo do repertório, técnicas de composição aplicadas e nomenclatura tradicional. É abraçada a improvisação como recurso fundamental e considerado o espaço acústico de apresentação ainda na concepção do repertório.

A voz é o instrumento acústico com mais recursos físicos disponíveis, diverso e subjetivo e por isso, incrivelmente versátil e ímpar. Ainda assim, um instrumento melódico. Para se fazer uso do seu potencial harmónico tem-se escrito para conjunto de vozes desde as primeiras experiências de harmonização que datam do século XII. Séculos se passaram e, ainda que recorrendo cada vez mais a técnicas estendidas para reforçar a atualidade e originalidade de novos repertórios, continua-se sobretudo a cristalizar a voz em peças escritas, naturalmente redutoras do seu potencial.

A abordagem de composição para este grupo procurou potenciar a liberdade a serem tomadas decisões composicionais em tempo real que acomodem a resposta do próprio espaço acústico, a expressão individual e espontânea de cada músico e a direção harmónica e melódica que se vai proporcionando, tendo como objetivo muito marcado o de que cada peça contenha caraterísticas muito singulares, que pelo seu caracter assertivo não sejam percecionadas como improvisações mas sim como peças específicas. A vantagem deste resultado é o melhor de dois mundos: o da improvisação e composição. Mantém-se o carácter espontâneo, único e irrepetível de um momento improvisado com a intenção e pertinência de uma peça previamente estruturada. Cada peça é pensada como se fosse a criação de um instrumento que, uma vez delimitados os seus possíveis recursos, estará disponível para ser usado por um improvisador. Assim, é meticulosamente desenhado o conjunto de premissas que delimitam os recursos de cada uma (espectro harmónico, tímbrico, textural, formal, entre outros..) e manipuladas através de gestos e sinais que lhes são específicos. Uma peça é então como que uma improvisação num instrumento diferente, vivo, espontâneo e dialogante.

Uma das componentes mais importantes na conceção deste projeto é o espaço acústico onde se apresenta. A primeira proposta deste projecto consiste na composição direcionada a espaços com reverberação. É contemplada a sobreposição de sons através deste fenómeno acústico e por isso, consoante a sua intensidade, a velocidade de execução das peças sofrerá alterações, prevendo assim a necessidade de acomodação a diferentes circunstâncias. Também a tonalidade da peça é passível de ser ajustada conforme o formante acústico da sala (nota que reverbera com mais intensidade).

Da mesma forma, que o grupo explora o som no espaço e ocupa posições diferentes ao longo do concerto tirando partido de diversas condições sonoras, o espectador é convidado a circular e percecionar o som de maneiras distintas aproximando o concerto da ideia uma instalação, onde quem escuta é convidado a ter uma postura mais ativa e curiosa. O tempo musical é pensado de forma a simular uma contemplação próxima à das que se têm nas artes plásticas – livre do comportamento linear narrativo que acompanha tradicionalmente toda a arte que se comporta no tempo (música, teatro, cinema) onde não há hipótese de se voltar a trás para se apreciar um certo pormenor ao contrário da pintura, escultura ou quaisquer arte cujo cerne coincide com um objeto físico, passível de apreciação vagarosa e descomprometida. Por outras palavras, o tempo é trabalhado de forma a proporcionar uma contemplação ao comportamento sonoro no espaço.